Sobre Ela



Sou simples, e não sou. 

Carioca meio mineira, estudante, amante dos livros e das tintas, posso dizer que eu sou eu no mais puro e real sentido quando estou suja de tinta ouvindo Chico Buarque.
''É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo.''
Eu não faço o menor sentido, só posso dizer do que gosto ou do que não gosto. Odeio chocolate, rosas e ervilhas. As duas primeiras somente porque não quero ser incluida no grupo estereotipado de mulheres normais, e a terceira pelo sabor.
Prefiro que me admirem pelo conteúdo, pelas tatuagens e pelo caráter. Beleza física talvez não seja meu forte porque não a cultivo como um bem maior. Meu cabelo é curto e meu corpo desenhado, minhas memórias são vasta, confusas e surpreendentes.
Sou feita das músicas que ouço, dos livros que leio, das telas que pinto, das pessoas que passam por minha vida e atentamente as registro.
''Gosto do silêncio, e gosto ainda mais quando ele é quebrado por algo pertinente, conversa fiada e papo-furado não estão entre as coisas que aprecio, na verdade estão bem próximo do topo de coisas que desaprecio. Gosto da metafísica e da filosofia, que me permitem viajar mesmo não me levando a lugar nenhum, gosto das discussões sobre fé e sobre descrença, gosto mesmo é de poder escolher entre falar sobre o tudo ou sobre o nada.
Não acredito no brega, brega não existe e toda a moda nos prova isso de tempos em tempos, existe o futil, aquilo que se despe de propósito, o dispensável que é tudo aquilo que realmente não possui a menor necessidade de ser, e o injustificável que nada mais é que toda sorte de idiotice intoleravel em um nivel de coexistência conhecido por sociedade. Mas brega é uma palavra usada por aqueles que não se permitem, e não se permitir isso sim é brega.
Brega é ser banal, ser mais um, não fazer a diferença, acreditar que a quantidade se sobrepõem a qualidade, abraçar a mediocridade e com ela se contentar quando se pode mais com apenas um pouco de esforço ou  paciência. Aceitar a facilidade, o caminho mais curto, o atalho que nos torna menores do que somos, a droga que nos altera, a escolha que nos diminui, a luxuria que nos mancha.
Não sei porque gosto das coisas velhas, aliás prefiro chama-las de clássicosSempre fui historicista, pois a história ensina e boas histórias inspiram. Olhar para trás para as lembranças, lembranças do tempo, lembranças das músicas, lembranças dos momentos. Lembrar daquilo que fizeram e que fizemos tendo enérgico orgulho ou ruborenvergonhado, tanto faz o importante é tamanho de nosso baú de memórias.
Sou foliã, gosto da bagunça e loucura do carnaval, gosto de estar no meio do povo e de toda aquela vibração coletiva, mas gosto ainda mais de no meio de tudo aquilo olhar para o lado e ver algo diferente, algo que reluz e que chama a atenção, alguem que no primeiro olhar encanta e que na primeira frase nos faz perceber que todo minuto dispensado vai valer a pena. E esse alguem deixa saudades já na despedida porque algum tolo inventou que todo carnaval tem seu fim. Mas ao menos posso dizer que o meu ainda não terminou.''


''meio menina, meio mulher, meio nonsense, meio estilosa e totalmente bela''
(Grifo meu)
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